segunda-feira, agosto 2

O impostor que vive em mim



Certa noite tive um sonho assustador. Quando acordei, lembrei-me do livro de Brennan Manning cujo título é O IMPOSTOR QUE VIVE EM MIM. Por sinal, este foi um dos melhores livros que li nestes últimos anos.

No sonho eu havia preparado um grande tabuleiro de farofa. Era uma grande quantidade de um tipo de farofa cheia de diversos tipos de carne para servir a um imenso grupo de convidados que se reunia em minha casa. Ao retirar o tabuleiro do forno, verifiquei que havia vários gatinhos recém nascidos, justamente na parte final do tabuleiro. Ainda tentei separá-los do restante do alimento a fim de poder aproveitar o máximo possível. Mas foi tal a minha repugnância que acordei assustado e nervoso, exatamente no momento que tentava retirar os gatinhos do meio da farofa, sem querer desperdiçar todo o conteúdo que havia preparado com tanto esforço e dedicação. Havia gasto muito dinheiro para jogar fora tudo aquilo... Alguém ainda fez chacota com os gatinhos que foram parar naquele lugar, enquanto eu ia separando-os com cuidado tentando aproveitar a parte “não comprometida” do alimento... (que nojo!). De fato acordei com nojo de mim mesmo e da situação. Imediatamente associei o sonho com o livro mencionado acima e com os pecados mentais que praticamos diariamente, sem nos dar conta de que não dá para conviver com o alimento santo do Senhor e os “gatinhos” do mundo em nosso coração.

No livro citado o autor discorre sobre essa tendência nossa de tentar nos justificar diante de Deus com uma religiosidade aparente, superficial e enganosa. Procuramos aplacar nossa consciência pecaminosa e a ira divina mantendo uma postura social respeitosa, com atitudes e obras rituais, formais, que agradam às pessoas, ou que pelo menos as pessoas esperam de nós. Contudo, não conseguimos suportar o fato de que as nossas “boas obras” ou “boas atitudes” estão comprometidas com a sujeira do pecado que há em nós, ou que praticamos mentalmente. Enquanto não percebemos que não há como separar os gatinhosrecém nascidos do meio da farofa e servir aquele alimento como se nada tivesse acontecido. Felizmente eu acordei antes de tentar aproveitar aquele alimento. Mas não consigo esquecer-me de quando tento representar um tipo de pessoa pura e santa quando na realidade, pelo que me conheço, não sou aquilo que tento representar para agradar e satisfazer os outros. Não adianta tentar remediar com o pecado, protelar até que haja uma solução menos traumática, ou menos prejudicial. Tenho que jogar fora tudo aquilo que foi contaminado pela presença do pecado, ainda que represente muito tempo e dinheiro investido para se conseguir chegar àquele objetivo. Deus abomina a espiritualidade sem santidade. Deus não se agrada de ritualismo e formalismo desprovidos da sinceridade do coração; coração dividido, ou falta de integridade.

Enquanto não desmascaramos o impostor que vive em nós e o apresentamos ao Senhor, não temos paz para orar, ler a Bíblia ou para compartilhar a Palavra com outros; ainda que muitas vezes o façamos. A cada dia preciso apresentar o impostor que vive em mim ao Senhor que vê, que sonda o meu coração. Não consigo servir o alimento santo e puro misturado com a sujeira deixada pelos gatinhos nojentos do pecado. Creio que foi algo semelhante que aconteceu com Davi depois de seu pecado com Bate-Seba, quando escreveu os salmos 32 e 51. Foi quando ele, não suportando o nojo provocado pelo pecado em seu coração, achegou-se a Deus dizendo: “Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado” (Sl 51.2). Assim também, a cada dia preciso apresentar diante de Deus o impostor que vive em mim, pedido-Lhe que restaure mais uma vez e sempre, contínua e completamente, o meu relacionamento com Ele, tirando toda a impureza do tabuleiro do meu coração. Preciso clamar ao Senhor constantemente:“Restaura, SENHOR, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe” (Sl 126.4).

A Bíblia diz: “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23). O evangelho deve ser apresentado tanto pelo modo de vida, como, também, através das palavras que pronunciamos. Ninguém aceitará a nossa mensagem com seriedade, se vivermos de forma contraditória à Palavra. Para haver limpeza espiritual há necessidade de renúncia de tudo quanto contribui para contaminação do corpo, da mente e do espírito. Diz o ditado popular: “Povo desenvolvido é povo limpo”. Podemos acrescentar: Crente desenvolvido espiritualmente é crente limpo, dos pés à cabeça... Portanto, Deus quer que sejamos limpos, no falar, no vestir, no pensar e no agir. Que Ele para tanto nos ajude.


Pr. Vanderlei Faria

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