Espiritualidade Ordinária
Oi gente, aqui é o Gustavo.
Há alguns dias, voltamos para Dallas. Tempo de aprendizado e crescimento em todas as áreas da vida. Diferentemente da Ana, sou mais introvertido e calado. Gosto do silêncio e de estar sozinho. Prefiro os retiros aos eventos; o silêncio, ao barulho; as montanhas, às plataformas; os desertos, às festas. Alimento a minha espiritualidade no retiro, no silêncio, na quietude e na solidão. Agora, por exemplo, são duas horas da manhã. Vim para o escritório a fim de estar a sós com Deus no silêncio da noite do Texas. Mas enquanto do lado de fora reina o silêncio, do lado de dentro, o meu coração continua cheio de palavras, lembranças, perguntas e pensamentos. Nem sempre é fácil aquietar a alma e silenciar o coração… E muitas vezes, o esforço é em vão. O coração quer falar, gritar, pensar, redirecionar a vida e chamar a nossa atenção para outros valores, outrora esquecidos, deixados dentro da gaveta da nossa alma.
Percebo, hoje, que é mais fácil alimentar a minha espiritualidade no meio do (vou chamar de) extraordinário, a saber: na intensidade da vida ministerial, nas atividades da igreja, nos – às vezes – extenuantes trabalhos diários, nas imensas pressões por causa das decisões urgentes, e, então, nos retiros, nos jejuns, nos momentos diários de solitude, nos períodos dedicados à meditação nas Escrituras. (De alguma maneira, todas essas atividades pareciam me encher de significado e me levavam a algum senso de importância. Sentia-me importante quando me reunia com outros para tomar uma decisão urgente, ou quando pregava no culto, ou aconselhava uma pessoa, ou instruía algum irmão, ou preparava-me em períodos de oração e jejum. A espiritualidade parecia alimentar-se muitas vezes desse extraordinário, da vida intensa, das coisas novas, dos desafios, dos projetos, das realizações e da expectativa daquilo que aconteceria no dia seguinte.)
A espiritualidade do ordinário, por outro lado, se desenvolve nos lugares comuns e na rotina diária. Ela nos convida a sondar o coração e a nos encontrarmos com Deus na cozinha, lavando louça; na sabedoria e mansidão, ao respondermos aos 502 porquês do filho de 4 anos; no serviço (longe dos olhos da multidão), quando trocamos a sexta fralda suja de coco; na paciência, quando somos constantemente interrompidos naquilo que estamos fazendo. A espiritualidade ordinária nos leva da cozinha ao quarto; do quarto ao banheiro; do banheiro ao supermercado; dos púlpitos à sala de estar; das plataformas à lavanderia; dos encontros com pessoas públicas aos encontros com a nossa esposa e filhos pequenos; dos lugares onde todos nos vêem aos lugares onde apenas Deus nos vê.
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